Educação em crise: como uma cidade que arrecada bilhões deixa 4 mil crianças sem creche?
Guarulhos cresce em arrecadação, mas falha no essencial: 4 mil crianças seguem sem vaga em creche pública
A cidade de Guarulhos vive um paradoxo que beira o absurdo. Enquanto a arrecadação municipal disparou mais de 60% nos últimos 4 anos — saltando de R$4 bilhões em 2020 para R$6,6 bilhões em 2024 —, a educação básica parece ter ficado para trás. Em 2025, o investimento previsto para a área sofreu um corte de 7,56%, passando para cerca de R$1 bilhão. O resultado? Um número alarmante de 4 mil crianças na fila por uma vaga em creches públicas.
Em 2025, foram 18 mil inscrições para a Educação Infantil. Apenas 14 mil foram atendidas. E o mais grave: para muitas mães, a espera se transforma em desespero.
Roberta Suene, mãe de um bebê de 8 meses, trabalha em home office e atualmente precisa pagar R$600 por mês em uma creche particular — além de caminhar 4 km todos os dias, ida e volta, porque não pode arcar com transporte. “Fiz a inscrição em janeiro. Estava na posição 29. Em meses, só andou duas posições. É desesperador”, desabafa. “Ainda tenho apoio da família, mas tem mãe que não tem rede de apoio nenhuma. E somos sempre nós, as mães, que sofremos.”
Menos dinheiro, mais angústia
A redução no orçamento da Educação compromete diretamente a criação de novas vagas. Além disso, a prefeitura ainda perdeu R$60 milhões do Salário-Educação devido a uma nova regra de distribuição determinada pelo STF.
A gestão atual afirma que está “empenhada” em resolver o problema e anunciou a abertura de cinco novas creches, além da ampliação de unidades já existentes. Mas nenhum prazo foi estabelecido. A nota oficial da prefeitura é vaga, sem compromisso com datas ou metas concretas — o que só aumenta a ansiedade de milhares de famílias.
Promessas e improvisos
Tentando conter a crise, o atual prefeito anunciou “soluções imediatas”, como parcerias com instituições privadas já existentes, enquanto novas creches são construídas. Mas sem cronograma público, transparência ou clareza, o discurso soa mais como remendo do que solução.
E a pergunta que não quer calar: como justificar cortes em áreas essenciais como saúde e educação quando a arrecadação não para de crescer?
De 2020 a 2024, a cidade viu sua receita subir exponencialmente. A arrecadação saiu de R$4,08 bilhões para impressionantes R$6,65 bilhões. Mas a aplicação desses recursos parece seguir outra lógica — uma que deixa mães desesperadas e crianças fora da escola.
A conta não fecha. E quem paga são as famílias.
A população confiou em um projeto político que prometia avanços, mas agora vê os serviços básicos ruindo. A nova gestão pode até apontar heranças da administração anterior. Mas quando se assume o poder, assume-se também a responsabilidade.
As mães de Guarulhos não podem mais esperar. Nem as crianças.
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