América Latina Aproxima-se da China em Cenário de Disputa com os EUA
Em um contexto de intensificação da disputa comercial e tecnológica entre China e Estados Unidos, a Cúpula China-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), realizada nesta terça-feira (12), sinaliza uma maior aproximação entre o gigante asiático e os países da região. O evento, que conta com a presença de líderes como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente chinês Xi Jinping, promete fortalecer as relações multilaterais e definir um plano de ação para os próximos três anos (2025-2027).
Nova Dinâmica Geopolítica
De acordo com o professor de relações internacionais Robson Valdez, do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), a América Latina tem ganhado relevância estratégica diante do embate comercial entre as duas maiores economias globais. “A força econômica da China atrai atores importantes da região, o que incomoda bastante os EUA. Nos últimos 10 a 15 anos, a China tornou-se um contraponto pragmático para os países latino-americanos, antes restritos às negociações com os EUA”, afirmou.
Reformulando o Cenário Regional
Como exemplo dessa crescente influência chinesa, Valdez citou o Porto de Chancay, no Peru, construído com capital chinês e inaugurado em 2024. O empreendimento ilustra a competitividade do modelo chinês de financiamento e desenvolvimento de infraestrutura, que frequentemente causa tensões com os EUA, tradicionais aliados econômicos da região.
O professor também pontuou que os EUA têm buscado se reposicionar no continente, enfrentando o desafio de equilibrar sua presença histórica com a crescente assertividade chinesa. “A interação da China com a América Latina tornou a região mais estratégica para os EUA, que anteriormente priorizavam outras áreas, como Oriente Médio e Ásia”, comentou.
Respostas e Reações
Recentemente, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, classificou a América Latina como o “quintal” dos Estados Unidos, gerando reações contundentes. Durante visita à Rússia, o presidente Lula rebateu: “O Brasil será quintal do Brasil, um país livre e soberano.”
A fala reflete a posição brasileira de manter uma equidistância estratégica entre as potências globais, evitando alinhar-se completamente com a China ou os EUA. Para Valdez, o Brasil desempenha um papel único como interlocutor entre o Ocidente e o Oriente, uma posição que reforça sua relevância diplomática.
Desafios e Perspectivas
O avanço comercial da China na região, como parte do projeto global da Nova Rota da Seda, enfrenta resistência direta dos EUA, que podem intensificar pressões bilaterais para limitar a influência chinesa. Países já alinhados aos EUA, como Argentina, Peru e Paraguai, estão entre os possíveis alvos dessas iniciativas, segundo Valdez.
A Cúpula China-CELAC é um marco importante para a redefinição das relações geopolíticas na América Latina, destacando o papel crescente da China na região e os desafios enfrentados pelos EUA para preservar sua influência.
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